sexta-feira, 28 de março de 2008

Você é um homem de paixões exaltadas, um homem esfomeado que não sabe direito o seu apetite, um homem profundamente frustrado tentando projetar seu individualismo contra um fundo de rígido conformismo. Você existe num semimundo suspenso entre duas superestruturas, uma de auto-expressão e outra de auto-destruição. Você é forte mas tem uma falha, e, a não ser que aprenda a controlá-la, a falha acabará mais forte que sua força e o derrotará.
A falha?
Reação emocional explosiva, desproporcional ao motivo.
Por quê? Por que esta ira desarrazoada diante dos que estão felizes e satisfeitos - este desprezo cada vez maior pelas pessoas e o desejo de magoá-las?
Está certo, você pensa que são tolas, que as despreza por sua moral, a felicidade delas é a origem da sua frustração e de seu ressentimento. Mas são horríveis inimigos que leva consigo: com o tempo tão destruidores como balas. Mas as balas, felizmente, matam suas vítimas. Esta outra bactéria, deixada envelhecer, não mata um homem mas deixa em seu rastro o casco de uma criatura arrasada e torcida.
Ainda há fogo em seu ser, mas o mantém vivo alimentando-o com os vermes do desprezo e do ódio, os bichos da terra.
Pode acumular com sucesso, mas não acumula sucessos, pois é seu próprio inimigo e não lhe é permitido desfrutar de suas conquistas.

Você persegue o negativo.
Você deseja não ligar a mínima, existir sem responsabilidade, sem fé, sem amigos, sem calor humano.




Carta de despedida de Willie-Jay ao Perry.
(A sangue frio - Truman Capote.)

Um comentário:

marifreica disse...

Sei que costumo dizer isso com uma frequência absurda, mas...nó! que profundo!